terça-feira, 23 de julho de 2013

Sociedade dos Maionófilos Assumidos


     Pode soar estranho e assim quero que soe: sou um "maionófilo". Não porque seja um obcecado pelo mês de maio, mês azul celeste das noivas, e sim porque sou louco por maionese. Digo isso de boca cheia, e cheia de maionese, essa delícia que não tem igual, que lambuza, que abusa do colesterol. Seu status, por ser heavy, popular, faz com que digam irresponsavelmente que faz mal à saúde. Ora, nocivos à saúde são os estúpidos dogmas que caem a cada semana neste mundo tão tolo e dinâmico.
     Antes de falar dela, a maionese caseira, vamos logo ao vidro, aquele que imprimiu personalidade e deixou famosa a iguaria. Mas hoje quero falar de prazer, quero é maionese, a comunhão, a catequese. Gostaria de saber quem me apresentou a esse delicioso creme acre - deve ter sido minha avó judia, talvez a russa ou a polonesa. Melhor, sei sim, foi a russa com certeza. Afinal, não é chamada salada russa aquela que cobre deliciosos cubos de batata como o molho definitivo?
     Mas falava do vidro, vidrado como sou pelo molho, ele sempre intacto, hermeticamente encerrado. E, quando abrimos, o cheiro escondido dos ovos misturados ao azeite arrebenta na atmosfera, a marca, as marcas do sabor. Foram tantas antes das importadas - sou da época em que se importava para as coisas, e não as coisas - que até perdi a conta. Mas  a soberana e inconfundível, a melhor, sempre atendeu por Hellmann's. Grande Richard Hellmann! Foi esse simpático senhor,um imigrante alemão, que, em 1912, colocou à venda em sua delicatessen nova-iorquina o creme de ovos que a patroa preparava em casa. E não foi só isso. Para entregar à freguesia em carrinhos de mão ou de bicicleta, o velho Hellmann adotou o pote de vidro como embalagem.
  A bem da verdade, vim aqui convidá-las a  entrar na SMA - Sociedade dos Maionófilos Assumidos. Na  inscrição você leva dois potes de maionese industrializada, mas boa pra caramba, e, depois de um ano como associado, recebe a receita original da verdadeira maionese caseira, além de um diploma de membro honorário da entidade. E com um detalhe campeão: o prêmio será entregue pelo espectro do senhor Hellmann.

(Coluna de Marcelo Fromer para a revista TPM nº 2. Marcelo Fromer foi guitarrista do Titãs e autor do livro 'Você tem fome de quê?' Ed. DBA.)